Ressurgência Puri
17 Junho - 2018
A participação de Dauá Puri, representante do movimento de ressurgência Puri como colaborador foi para embasar o conceito de design do Abrigo Nguara, fazendo referência ao povo nativo de nossa região e ao mesmo tempo trazer simbolicamente um puri para a região. na localidade da Serrinha do Alambari Existem algumas lendas sobre a Pedra Sonora, em uma delas um índio guerreiro Puri gravemente ferido em uma emboscada pelos índios coroados, foi salvo da morte ao bater na pedra que fez um forte ruído ecoar por todo o vale, avisando seus companheiros que prontamente vieram lhe salvar. E desde então esta pedra tornou-se local sagrado para o povo Puri. Atualmente, a Pedra Sonora tornou-se um ponto turístico da região. Porém não há indícios claros de que esse povo ainda exista no local, a perspectiva atual é que os Puris tenham se dispersado e misturado.
O conceito de abrigo temporário foi formado a partir da Nguara, que abrigava os puris em suas incursões distantes da loca. A Loca era um abrigo de caráter permanente, onde adaptavam para moradia cavernas e pedras. Os puris, arredios à colonização, eram considerados hostis e constantemente caçados e mortos. A Nguara era um abrigo temporário utilizado por esse povo em incursões na mata ou em fugas.
A vinda de Dauá, liderança do movimento de ressurgência foi um ato repleto de simbolismos. O movimento de ressurgência desse povo tem como objetivo encontrar remanescentes dispersos desse povo, resgatar a língua, os costumes e suas histórias. Até pouco tempo foi considerado extinto pela cultura branca colonizadora, mas o que os estudos atuais apontam é que os remanescentes puris foram-se diluindo e miscigenando entre a população dos aldeamentos, vilas e novas cidades. O movimento de ressurgência se iniciou quando Dauá Puri encontrou com Niara do Sol, erveira indígena. Ele nos contou em roda de papo sobre o a ressurgência do povo, que durante um tempo em sua vida esteve em situação de risco social, sem trabalho e renda, vagando pelas ruas e com vicio em bebida. Quando buscou ajuda, encontrou Niara do Sol, que lhe ajudou a deixar o vicio e o levou para a Aldeia Maracanã, aldeia urbana no Rio De Janeiro, local onde houve o famoso ato de resistência indígena durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Na Aldeia Maracanã, Dauá encontrou abrigo, a aldeia urbana serve como ponto de encontro e abrigo para pessoas de variadas etnias quando precisam ou querem estar no Rio de Janeiro, ou mesmo, quando necessitam de auxílio. Após um breve período na aldeia, Dauá foi questionado por outras lideranças sobre a real existência do povo Puri, colocando em dúvida a existência dos Puris, alegando que eles não tinham nem terra, nem aldeia. Então, onde estavam os puris? Foi nesse momento que Niara do Sol lhe aconselhou a procurar e encontrar seu povo. E assim começou o movimento de ressurgência, com o empenho individual para achar e reconectar descendentes do povo disperso. Hoje os resultados de sua busca e pesquisa estão reunidas no TCC…
No domingo, promovemos o encontro entre Dauá Puri, nosso colaborador convidado, e o Professor Ênio, diretor da escola municipal da serrinha e pesquisador da história da região.
Durante a conversa na escola abordamos os seguintes temas:
Nomadismo como mito. Na verdade, estratégia de fuga.
Segundo Dauá, o povo Puri se estabelecia de forma fixa no território, buscando abrigo em cavernas. O mito do nomadismo foi construído pelo europeu para justificar a posse das terras. A relação que o povo nativo preservava com o território era incompreensível para a mentalidade colonizadora, focada principalmente na posse da terra e extração das riquezas para prover a metrópole. Então em situações de fuga, ou mesmo deslocamentos para casa e viagens, construíam-se as nguaras, abrigos rápidos e fáceis com o que encontrassem em seu entorno.
Pedra Sonora e os puris.
Um dos pontos chaves de nossa proposta era trazer pela primeira vez o caçador de histórias puris para região da Lenda da Pedra Sonora. Dauá nunca antes havia estado na localidade da serrinha e o levamos pela primeira vez na Pedra lendária. As pesquisas de resgate do povo até então haviam se concentrado na região do espraiado de maricá, na região norte fluminense nas proximidades dos municípios de Valença e Vassouras (RJ), e na cidade do sul de minas, Araponga -MG. O povo puri era na verdade uma nação, dividida entre tribos (clãs) que ocupava uma vasta região que se estendia entre a região que hoje em dia é conhecida como Campos Dos Goytacazes em sua extremidade norte e ao sul, o limite estava no norte do estado de São Paulo, ao oeste as serras, como a Mantiqueira, serviam como uma barreira natural.
A partir do encontro Interactivos?18, Dauá esteve na pedra, sentiu as forças do território, escutou o sonido da rocha. E incluiu a Serrinha Do Alambari como local visitado e a lenda da Pedra Sonora como história a ser recontada em seu ofício de contar histórias sobre seu povo.
O interessante deste encontro foi que soubemos que o professor Ênio já reproduz em atividades escolares para seus alunos canções em língua nativa Puri e danças indígenas que aprendeu em vídeos no Youtube postados por Dauá Puri.
Outra curiosidade foi saber que descendentes diretos atualmente trabalham com agroecologia, preservando sua relação com a mata nativa no município de Araponga – MG.
A referência Puri no design do abrigo sustentável Nguara é percebida na presença do esteio sustentando uma cobertura que tende para a meia água, e o telhado opcional de palhada de palmeira. Também focamos a simplicidade da estrutura e utensílios, bem como sua utilização, no espirito do bem viver, Na´thamati, e se relacionar de forma simples, respeitosa e prática com a natureza e os processos orgânicos.
Referências:
Lemos, Marcelo Sant´ana – “O Índio Virou Pó De Café? Resistência indígena Frente à Expansão Cafeeira no Vale do Paraíba” 2016, Paco Editorial