Conhecendo o local
15 Junho - 2018
Nguara é um abrigo ressurgente, planejado para ser executado com o mínimo de ferramentas e materiais comprados. Sendo este também um desafio. Com as mãos e a disponibilidade de dois dias de trabalho uma pessoa é capaz de pôr de pé (construir) o Nguara. E com isso obtém um abrigo seguro, temporário, ecologicamente correto, socialmente justo, economicamente viável.
Assim sendo, no primeiro dia, Sexta, 15 de Junho, fizemos o campo para conhecer o local de instalação do abrigo.
O Nguara, instalado no Top Club, terreno com declividade, pedregoso, uma casa de dois pavimentos abandonada, no pavimento inferior foi sediado a infraestrutura para a realização das oficinas. O quintal é cercado por mata terciária em franca regeneração. O palmito juçara predomina nessa região e o açaí juçara é um fruto gerador de renda para muitos na comunidade da Serrinha, que hoje sobrevivem do Juçaí.
A questão do palmito é conflitante, embora todos conheçam a lei ambiental, muitos são os que adentram a mata para a coleta ilegal do palmito nativo, montando acampamentos, atuando clandestinamente na extração do palmito. Embora seja fonte de renda, o juçara também é um problema para muitos comunitários, pois a intensa produção de biomassa provoca manutenção igualmente intensa. Nesse sentido o Nguara trouxe uma relação de manejo biodinâmico para a biomassa da juçara, e desta obteve a matéria primária para a construção do telhado.
Outro recurso que desenvolveu um relacionamento com o Nguara foi o bambu taquara, suas varas caídas e outras serradas serviram de estrutura para a construção dos tipis no formato de triângulos equiláteros, que, paralelos, sustentam o esteio do abrigo. Este material foi colhido na segunda feira, na terça feira o Nguara amanheceu com rede e fogão solar e durante este dia foi instalado os banhos florais, sais de banhos, bebidas fermentadas, bem como shampoo e banho de ervas. O fogão solar foi, basicamente, um presente que o manejo do bambu nos trouxe.
O entorno da mata que faz divisa com a propriedade encontra-se o descarte de lixos domésticos dos habitantes e distritantes. Entre os lixos, a equipe encontrou vidro para o fogão solar, duas latinhas de alumínio, uma da copa de 98, ambas utilizadas no fogão. Uma chapa de ferro também foi encontrada e esta por sua vez peça chave para definir o desenho do fogão e proporcionar o aumento de mais de 30 graus na retenção de calor.
O ir e vir a ser Nguara proveu um esquema divertido, uma jornada alegre, criativa, integrada com a ecologia local, gerando oportunidade de união com todos os projetos, fazendo-se morada, utilizando e partilhando o pão.