Fermentação: A Vida Na Cozinha
23 Junho - 2018
A vivência no Interactivos nos faz exercitar a observação em estado de atenção fluída. Percepção e escuta. Aqui construímos ligações e mapas não apenas geográficos mas também afetivos e intuitivos. Notas de observação e espaços atravessados. Estabeleceu-se um ciclo natural de constante troca de energia e de experiências materiais e imateriais em que a consciência da vida em seu significado mais puro torna-se visível e sensibiliza a todos.
Mapa-célula. Escolher penetrar as bordas dos órgãos e mergulhar ao lado de dentro. Você cada parte, o todo absoluto, escuta plena. Somos muitos, somos todos um, confie nisso. Assim podemos ser casa. Ecossistema. Estamos numa tecnosfera rural e esse ambiente nos convida a explorar os sentidos, depurar os conceitos, desmistificar e simplificar a existência. Fundo-raso, superfície de contato, núcleo. Colônias organizadas respirando para a manutenção do bem estar, algum modo de ser. Estamos presentes e vivos ao sentir, ao ver, ao tocar, ao cheirar. Paisagem e acontecimento.
Voz e imagens que aparecem. Nesse laboratório colaborativo em meio a natureza interagimos com a comunidade local e fazemos contato imersivo com a fauna e a flora. Biodinâmica por terra-céu. Essa rotina proporciona acessar a percepção coletiva de que cuidar do microuniverso significa cuidar das relações humanas e de seu entorno.
Força, criativa e intensa, de transformação e multiplicidade. Harmonia e coexistência podem vibrar alto no interior de cada corpo. A comunicação entre partes diferentes ou alguma conversa surge sempre de um desejo de partilha e de comunhão. Isso que fragmentamos é risco projetado ou somente um pensamento? Existe o micro dentro do macro. Multi universos, multi camadas.
INTRODUÇÃO
Começar a falar de microbiomas residentes em um pote cheio de repolho fermentando é ir em direção a um portal e um mergulho no corpo humano, reintegrando-se com o interior mais profundo da Terra.
A cozinha da fermentação é um convite a quem decide tornar-se livre das indústrias que plastificam alimentos. Para isso acontecer, é preciso atravessar a história das bactérias e se reconciliar com micro comunidades que em determinado momento foram marginalizadas, apesar de sua imensa importância para a harmonia do ecossistema. Estes seres vivos microscópicos que existem há bilhões de anos e que compõem 99% do DNA das células no corpo humano são na verdade nosso passaporte de volta para a reconexão com a natureza.
A QUÍMICA INVISÍVEL
A fermentação é um processo anaeróbio que gera energia a partir da quebra das moléculas de diversos tipos de açúcares (frutose, lactose, carboidratos cristalizados).
O calor, a ausência de oxigênio e o processo natural de decomposição geram novas vidas nos alimentos, transformando-os em campos povoados por milhões de culturas vivas microscópicas.
Através da troca de gases com o ambiente, as variadas colônias de bactérias, fungos, leveduras podem transformar alimentos e líquidos em fontes abundantes de enzimas, ácidos e complexos vitamínicos.
Cultivar esta biodiversidade e compreender que o corpo humano é este território perfeito para a continuação da vida dos microorganismos probióticos, também é saber que no intestino está a maior parte desta floresta e sua flora.
A fermentação nos possibilita uma recolonização outra vez do meio ambiente e em nós mesmos principalmente.
Quando começamos a prestar atenção nos alimentos que consumimos, de onde eles vêm e para onde vão, aqueles alimentos considerados esteticamente desinteressantes, porque estão amassados, hiper maduros ou se o tamanho deles é menor que a ideia vendida pelos grandes mercados, começamos a nos reconectar com os ciclos da natureza novamente.
O que nos faz repensar a agricultura e a compostagem é hoje uma responsabilidade que incluímos em nossa alimentação. Fermentar está diretamente relacionado a este movimento.