Interactivos?'16sis

Introdução ao Sistema Integrado de Saneamento Ecológico


O objetivo da proposta é desenvolver uma tecnologia social de saneamento atrelada a práticas em educação ambiental, que consiste em um sistema integrado de captação de água de chuva e de tratamento de águas residuais por filtros biológicos. O saneamento é um serviço básico ainda deficiente em todas as regiões do país e integra a gestão de resíduos sólidos, drenagem, água e esgoto. Os sistemas convencionais adotados nas zonas urbanas são excessivamente dispendiosos e pouco eficazes, com alto desperdício de água, energia, materiais e espaço. Nas áreas rurais o acesso ao saneamento é ainda mais precário, resultando em problemas como a poluição de corpos hídricos e proliferação de doenças infectocontagiosas. Constatada a insustentabilidade do modelo convencional de saneamento, o sistema proposto pretende-se uma alternativa viável a ele, que pode ser adotada por comunidades isoladas/em zonas rurais sem acesso à rede de abastecimento e coleta. A inovação está no desafio de integrar 2 tecnologias (adaptadas de alguns modelos já existentes) em um sistema único, atrelando soluções em drenagem e em esgoto que permitirão o fechamento do ciclo da água na menor escala possível (residencial).

Sua execução e disseminação tem como finalidade maior contribuir para o empoderamento humano. Assim, para além de uma técnica eficiente deve-se pensar a efetiva aplicabilidade desta tecnologia social, cujo desenvolvimento será orientado pelos seguintes princípios: baixo custo, priorizando o reaproveitamento de materiais já disponíveis; adaptabilidade do modelo a diferentes construções/territórios; execução técnica de baixo a médio grau de complexidade; eficiência e qualidade. Em conjunto com o sistema a ideia é criar um manual que oriente sua implementação. O manual será ilustrado e voltado para jovens, podendo ser incorporado ao sistema formal de educação, como por exemplo como projeto científico em turmas de ensino médio, aliando conhecimento teórico e domínio de tecnologias que transformam a relação com o ambiente. O conteúdo do manual será elaborado de forma a despertar o interesse sobre o ciclo da água na região e instigar o jovem a refletir e propor soluções de saneamento para um espaço concreto (sua escola, residência, entre outros), desde a seleção à confecção da tecnologia mais adequada. A primeira parte do manual incluirá um questionário sobre a origem, qualidade e quantidade de água consumida na região, com tabelas para auxilio do cálculo do consumo. A partir desses dados o sistema será dimensionado.

O manual é um canal para externalizar esta experiência, facilitando sua reprodução em outros territórios. Confeccionar o manual é também um duplo exercício para os envolvidos neste projeto – visto que a melhor maneira de apreender um conhecimento é passando-o adiante. Sobre o funcionamento dos sistemas, incialmente a captação de chuva coletará a água do telhado da construção com calhas que desembocam em um filtro mecânico que descarta as partículas maiores e as primeiras águas da chuva. A água é então conduzida a um reservatório, interligado à caixa acoplada do vaso sanitário. O reservatório é dimensionado de acordo com a tamanho do telhado e regime de chuvas da região, e deve ser posicionado em altura superior ao vaso sanitário sifonado, dispensando o uso de bombas hidráulicas. Quando a válvula de descarga for acionada e não houver agua de chuva no reservatório, pode-se acionar por válvula a entrada de água da rede convencional. A água da descarga será então conduzida por gravidade diretamente ao à primeira bacia de tratamento. O sistema de tratamento biológico de esgoto será composto por 5 filtros interligados: o primeiro e o segundo para tratamento anaeróbio, o terceiro, quarto e quinto para tratamento aeróbio com plantas aquáticas. Os filtros serão feitos com caixas d’água, dispostas em área de declive e interligadas por canos de pvc. A utilização de água da chuva no vaso sanitário é benéfica ao tratamento posterior do esgoto, diferente da água da rede de abastecimento que chega nas residências com alto teor de cloro, substância que dificulta a degradação da matéria orgânica pelas bactérias aeróbicas. Ao final do tratamento a água terá carga orgânica baixa e poderá ser incorporada como biofertilizante em um sistema de cultivo de ciclo longo (árvores frutíferas) ou devolvida em um corpo hídrico. Diferente de um banheiro seco, o tratamento biológico não exclui a água do processo mas permite sua reutilização de forma segura. Seu uso é pertinente em determinados casos, como quando há restrições culturais ligadas ao uso do banheiro seco, ou em região com abundância de chuvas ou com espaço restrito para compostagem. O detalhamento técnico do sistema integrado de saneamento ecológico será enviado por email. Caso aceito, sua viabilidade técnica será estudada mais a fundo e aperfeiçoada na troca de saberes com os colaboradores. Vale ressaltar que esta proposta está em diálogo com um projeto paralelo já em desenvolvimento para o Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Engenharia Ambiental, a ser apresentado no segundo semestre de 2016, que aborda ferramentas da permacultura para o desenvolvimento de comunidades tradicionais.

O objetivo inicial do TCC é identificar processos existentes de construção do espaço vivido, com reconhecimento das técnicas/tecnologias utilizadas na sua transformação (com enfoque no saneamento rural), e em seguida propõe algumas contribuições da permacultura na leitura e no desenho desses ambientes. O trabalho será feito junto a comunidades de Oriximiná (entre os meses de setembro e outubro) associadas ao acompanhamento de um projeto de saneamento e agroecologia em execução com o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra/Paraty/Ubatuba. Assim, a residência na Nuvem e a experiência em campo no Pará e na região de Paraty podem ser complementares. Por fim, esta proposta de atividade é parte de um movimento pessoal mais amplo para integrar esferas da vida (academia/universidade, arte, agroecologia/projetos) que geralmente não se comunicam, restritas aos espaços aos quais se destinam formalmente. Vejo a própria concepção da convocatória “Interatividades” como um caminhar também nesse sentido, deixando a impressão de que essa demanda por uma vida mais integrada é de todos.


Interactivos?'16sisIntrodução ao Sistema Integrado de Saneamento Ecológico